sexta-feira, 18 de setembro de 2009

REFERENCIAS - JORNAIS - TEXTOS

Manuel Magalhães, com a sua máquina fotográfica, percorreu os lugares da lenda, essa lenda quase verdadeira, tão pertinaz como os lugares que, em Gaia, continuam a dizê-la. Seguiu a fala de Garrett, neste ano todo dele. Porque foi Garrett que, ao levantar o seu Romanceiro de um revivalismo apenas “gótico”, soube inventar a memória poética desses lugares que se inscreveram em nomes daquele desejo que funda todas as certezas.
Aureolado pelo minúsculo castelo que não era de Alboazar, tinha a haver a Lenda do Rei Ramiro; o outro, o da lenda e não da Quinta, os bosques tão frondosos que esconderam a armada pirata, a fonte da traição e da vingança, - há sempre uma fonte nos mitos de renovação - , a calçada regressada com a raínha, Zahara ou Gaia, inconsolável no nome em todos os casos contraditório, sempre lá tinham estado. Ou não? Manuel Magalhães mostra-nos o círculo mágico do mito, as poucas árvores de que a lenda necessita para se reaver, em imagens flutuantes como a memória, difusas e soturnas como esse rei que foram dois, o das “algaraviadas” e o nosso, mal casado com Adosinda, a olim regina e, acima de tudo, o títere de muitas lendas que os lugares, mais do que a história, tece sempre que do rio – esse rio poderoso, paixão premonitória de Gaia, roubada mas feliz – sobem os nevoeiros que anunciam a hora das narrativas.

Maria do Carmo Serém

Na exposição A lenda do Rei Ramiro, Edifício da Cadeia da Relação do Porto / Centro Português de Fotografia / Ministério da Cultura, Porto, 7 de Julho a 15 de Agosto de 1999.

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